Vacina no posto ou vacinas particulares - Postado por Jairo Len

Tem sido frequente o questionamento sobre "aonde vacinar o meu filho? A vacina oferecida nos postos de saúde é igual à vacina das clínicas particulares?"
O assunto é simples, e evitarei qualquer dó sociológica para responder. Quem pode pagar, tem à disposição nas clínicas de vacinação o que há de melhor, mais seguro e completo em matéria de vacinas.
A vacina das clínicas particulares não é igual à dos postos de saúde. Aliás, como tudo o que o governo oferece "graciosamente", em troca dos nossos impostos.
Apesar de ser bem técnica, espero que a explicação abaixo tire as dúvidas.

Antes de mais nada, lembro que o PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Brasil é um dos mais completos do mundo, no quesito número de doenças protegidas. À exceção da vacina contra catapora e contra hepatite A, o governo disponibiliza todas as outras vacinas existentes. Estas duas vacinas só podem ser aplicadas em clínicas particulares.
Porém, a diferença em relação às outras vacinas não é sutil...

- Vacina tríplice bacteriana (DPT): no PNI usa-se a vacina produzida no instituto Butantan, a DPT de célula inteira, uma vacina que causa índice alto de reações adversas. Nas clínicas particulares, só existe a DPaT, a vacina acelular, usada em todos os países "desenvolvidos" do mundo. Nesta vacina o componente da coqueluche é feito por engenharia genética, não se usa o capside da bactéria. Resultado: muito menos reações.

- Poliomielite: os postos ainda usam a Polio Oral (Sabin), em desuso total em países como EUA, toda a Europa e Escandinávia, Japão e Israel. Nas clínicas particulares só se usa Polio Inativada, aplicada na mesma seringa que a DPT. Esta vacina confere alta proteção e risco zero de causar a PPV - poliomielite pós-vacinal - um raríssimo efeito colateral da vacina Sabin. Foi por este motivo, a PPV, e também para acabar com a circulação de um vírus vivo e inativado, que o mundo desenvolvido parou de usar a Sabin.

- Hepatite B: aplicada nas clínicas particulares também na mesma seringa que a DPaT + Hemófilus + Polio (vacina Hexavalente), diminui o número de injeções na criança. Caso não seja este o problema, copio abaixo o trecho de um estudo sobre vacinas:
"Estudo realizado pelo Dr. Reinaldo Menezes Martins (do Comitê Técnico Assessor do Ministério da Saúde) e col, comparando a imunogenicidade da vacina contra Hepatite B produzida pela GSK (Engerix) e a do instituto Butantã (Butang) demonstrou, entre outras coisas, que a porcentagem de soroproteção da vacina Butang em adultos entre 31 e 40 anos de idade foi de 79,8 % contra 92.4% da Engerix B®."

- Rotavírus: nos postos existe à disposição a vacina contra rotavírus monovalente (da GSK). A vacina é belga, segura e bem produzida, mas só protege contra um sorotipo deste vírus, o que equivale a 70% dos casos no nosso meio. Nas clínicas particulares se aplica a vacina pentavalente, norte-americana, que protege contra cinco sorotipos de rotavírus - 99,5% dos casos brasileiros. Esta vacina (a pentavalente) é utilizada de rotina nos Estados Unidos e a mais indicada para nós.

- Pneumococos: nos postos utiliza-se a pneumocócica conjugada 10-valente (da GSK), também belga, segura e eficaz. Nas clínicas particulares usa-se a pneumo 13-valente (da Pfizer/Wieth). Estes 3 sorotipos a mais de pneumococos são extremamente importantes no Brasil, pois 2 deles são pneumococos muito comuns por aqui. É uma vacina que chegou há 6 meses no Brasil, muito aguardada pela comunidade pediátrica. Esta vacina (a 13-valente) é utilizada de rotina nos Estados Unidos, no PNI deles. Nossas crianças também merecem...

- Meningite C: talvez a diferença menos contundente. O governo utiliza a vacina da Chiron. As clínicas aplicam a vacina da Baxter. Ambas são muito seguras, mas a vacina da Baxter é a única que apresenta níveis protetores a partir da primeira dose aplicada (com 2 ou 3 meses de vida). Como é uma doença gravíssima e correspondente a 70% dos casos de meningite bacteriana em São Paulo, julgo a diferença relevante, ao menos ao aplicar a primeira dose.

Por fim, gostaria de colocar um trecho da entrevista publicada na revista Veja desta semana, com o Dr. Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantan:
O Senhor assumiu a presidência do maior fabricante de vacinas do país, o instituto Butantan. Por que o Brasil exporta apenas 5% de sua produção total?
Nosso processo de produção precisa se adequar aos padrões de qualidade estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde. A OMS exige, por exemplo, que cada etapa da fabricação da vacina seja feita em um ambiente com o sistema de ar condicionado isolado, o que reduz drasticamente o risco de contaminação do produto. Não temos isso. Aqui, todas as salas estão ligadas a um único sistema. O mesmo vale para as roupas utilizadas pelos pesquisadores que devem ser trocadas a cada etapa da produção da vacina. Nós também não temos isso. A OMS preconiza que o número de partículas de detergentes usados na limpeza das salas e dos materiais seja o dobro do que temos hoje. Todas essas adequações lá estão em andamento. Até 2015 o número de doses produzidas, hoje na casa de 200 milhões ao ano, vai dobrar - e poderemos exportar mais.
O não cumprimento das exigências da OMS influencia a qualidade da vacina brasileira?
Na eficácia, não. Nossas vacinas são tão boas quanto quaisquer outras produzidas pelos grandes laboratórios internacionais. A diferença está nos eleitos colaterais. Em geral, independentemente do local onde são fabricadas, elas podem causar um quadro leve de febre ou diarreia. Se, durante o processo de fabricação, sobra um restinho de microrganismo, essas reações adversas tendem a se agravar - o que, apesar de prejudicar a ação da vacina, pode comprometer a adesão aos programas de imunização. Atualmente, com as nossas vacinas, a incidência desse, sintomas mais severos é de um caso em I milhão.

A decisão de como e aonde vacinar seus filhos cabe aos pais, dentro de suas possibilidades econômicas, inclusive. O que não posso deixar de mostrar é que existem diferenças marcantes nos tipos de vacina.
E relembro que o nosso riquíssimo país (para algumas coisas...) poderia oferecer à sua população o que há de melhor em matéria de vacinas, assim como na saúde como um todo e na educação.
Salve-se quem puder.

Comentários

  1. meu filho vai completar 14 anos em novembro,e a ultima vacina q tomou ele tinha uns 3 anos,quai vacinas são necessarias p q eu acerte o seu cartao de vacinação?

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  2. Excelente comparação. Como meus gêmeos nasceram prematuros, fiquei com medo das reações adversas e fiz as primeiras doses na clinica particular. Próximo dos dois anos de idade resolvi recorrer ao posto de saúde e aí pude sentir a diferença gritante. Em primeiro lugar, você chega no posto, e ninguém te mostra a seringa lacrada, já ficam todas prontas em cima da mesa. Nas clínicas as seringas e ampolas são abertas na sua frente. Além disso, as vacinas doeram bem mais no posto, não cobriram todas as cepas, deram febre.. enfim... um horror. Quem puder que pague tudo particular para seus filhos.

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  3. Um absurdo não divulgado, se a pediatra tivesse comentado, só daria na particular, dei a varicela e hepatite A, pq não tem no posto. E agora recomendou a pneumo 13. Mas daqui por diante só dou particular, fzer meu bb ter reações que podem ser evitadas, não faço não.

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