Amamentação e a criação com apego - Postado por Jairo Len

É claro que, a Time publicando uma reportagem de capa sobre aleitamento materno, a imprensa mundial repercutiria/debateria o assunto.
No post anterior - cujo assunto era justamente esta reportagem da Time - eu não entrei no assunto "tempo" de amamentação, procurei falar mais da cobrança feita às mulheres em relação à amamentar e não-amamentar.
A Folha de São Paulo fez uma matéria sobre crianças amamentadas ao seio até idades mais avançadas - como os 7 anos (sete a-n-o-s). Vale a pena dar uma lida na reportagem.
Todos sabem que sou a favor do "livre-arbítrio"... Desde que não incomode ninguém, cada um tem direito de fazer o que queira consigo e seus filhos (obviamente não infringindo o Estatuto da Criança e do Adolescente).

Mas acho que estas amamentações prolongadas (três, quatro, cinco...sete anos) são uma coisa bastante esquisita. É claro que seria necessário entender o que cada uma destas pessoas pensam para saber aonde se quer chegar. Se imaginam mesmo que é "isso" que faz a diferença nutricional, que é o aleitamento que vai aumentar seu vínculo com o filho... Ou, quem sabe, Freud e muita psicanálise expliquem aonde querem chegar estas mães e pais...

Agora...chamar isso tudo (inclui os slings) de "criação com apego" é uma santa arrogância misturada com ignorância. A teoria vem do livro "The Baby Book", escrito por William Sears, que virou manual destas pessoas que, apesar de alternativas, seguem passos bem estereotipados. Outro ponto do livro é que as crianças devem dormir com os pais, na mesma cama.
Os ultra-adeptos tem, é claro, grupos de discussão, sites, seus próprios livros...tentando justificar o porque fazer a "criação com apego" é tão importante.
Será que foram criados "sem apego" pelos seus pais?

Como pediatra há quase 20 anos posso afirmar que conheço milhares de famílias que criam seus filhos com muito apego, com todo o amor e dedicação do mundo - um esforço que só quem tem filhos pode imaginar que se faça isso por alguém.
E nunca precisaram colocar estar práticas questionáveis para mostrar isso para os outros, não aparecem em capas de revista ou na internet.
Guardam todo o amor dentro de si e no seu núcleo familiar, o que é o melhor que se pode fazer.

Comentários

  1. Dr. Jairo, essa questão é realmente muito polêmica, não creio que o apego deva ser associado só a amamentação, há controvérsias mesmo... eu amamentei só até 4 meses e não foi uma experiência muito boa ( espero que no próximo seja melhor) e confio que tenho dado muita dose de amor e carinho para minha filha independente do tempo que ela ficou no peito.Fico em alerta tbm sobre crianças ainda estarem no peito até mais velhas, pois temos vários assuntos que precisam ser discutidos e um deles é o complexo de Édipo que pode ocasionar algumas confusões na cabeça da criança..vai entender né?? Cada um responde por seus atos e não deve ser regra para sociedade...Creio sim no apego com a amamentação, mas não é a única forma...

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  2. Criar com apego, Jairo, é se dedicar a agir instintivamente. O Attachment Parenting foi apenas um nome dado a essa linha de raciocínio, já que hoje em dia a nossa sociedade tem cada dia mais a necessidade de impor limites rígidos para os bebês querendo educá-los forçadamente a serem independentes logo que nascem. O raciocínio é longo e depende de mente aberta para que entenda.

    O Senhor, como médico pediatra, deveria pesquisar um pouco mais sobre a prática, sobre os seus benefícios, para poder dar uma opinião baseada em estudos. Tudo isso, nada mais é, do que criar nossos filhos criando vínculo afetivo. Fazendo com que nossas crianças se sintam seguras e amparadas. Não existem regras, nem normas, nem padrões rígidos. Não há ditadura, ao contrário do que dizem os que não querem nem saber do que se trata. Há liberdade de escolha por práticas que tenham a ver com a cultura familiar e que, ainda assim, promovam o apego seguro entre pais e crianças.

    Isso não é papo de gente bicho-grilo, alternativa, natureba. Isso é coisa de gente muito esclarecida, principalmente do ponto de vista emocional. De gente que quer olhar para além de seu próprio umbigo e que se importa com a qualidade das pessoas que estamos deixando no mundo, com a qualidade da saúde emocional de seus filhos e da qualidade de vida que eles terão lá adiante. De gente que, a despeito das diferenças, comunga em um ponto fundamental: vê na criança algo além de um pequeno corpo, vê uma vida a se realizar, uma infinita possibilidade de amor e de crescimento, vê um mundo em seu constante vir-a-ser. Basta apenas saber que a qualidade do afeto que as crianças recebem tem, sim, totalmente a ver com quem ela vai se tornar no futuro. E ao contrário do que existia na década de 50, hoje a ciência de ponta já tem condições de mostrar onde e como as mudanças acontecem nos indivíduos criados com amor.

    Foram publicados, no periódico PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America) os resultados de um estudo que mostra que o bom cuidado materno na infância leva ao aumento de uma estrutura cerebral chamada hipocampo. Estudei bastante as funções do hipocampo em meu mestrado e no meu primeiro doutorado, quando estudei a neurobiologia da ansiedade e da depressão. De acordo com esse estudo, há uma clara relação entre os fatores psicossociais da infância e alterações no tamanho do hipocampo e da amígdala, estruturas cerebrais relacionadas à memória de curto e longo prazo e ao comportamento emocional, respectivamente. Isso mostra que existe, realmente, uma ligação entre as experiências afetivas que a criança vive na infância e a forma como seu cérebro se desenvolve.

    O raciocínio é longo, existem muitos estudos, mas não se prenda a regras. Para entender de um assunto é preciso pesquisar e estudar, então talvez esteja na hora de começar a rever o assunto. Aproveite que amanhã *23.Maio.12 será o dia da blogagem coletiva sobre o assunto! Quem sabe isso não te ajude a entender melhor, não é?

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    1. Predaza Frann
      Se você lê os posts do meu blog sabe, em primeiro lugar, que sou a favor do livre-arbitrio, e que sempre digo que em educação não existe "one-size-fits-all" (uma regra única, digamos assim).
      O que eu quis dizer neste post é que chamar ("roubar") o nome APEGO para este tipo de modo de educar, vinculando a práticas nem sempre possíveis (como a mamamentação exclusiva, e por muito tempo)não é correto.
      Assim como você é a favor de alguma práticas, eu não sou.
      Minha experiência, além de leitura, baseia-se muito na prática, em 20 anos lidando com famílias e vendo os resultados.
      Não adianta a gente escrever sobre diversos estudos, PNAS, etc... e não saber exatamente como isso se desenvolve no dia a dia.
      Nos livros, é maravilhoso.
      Não imagine que os pais que não seguem o Attachment Parenting judiam dos seus filhos, educam no chicote e usam palmatória.
      Nem céu, nem terra.
      Vamos deixar as mães que não conseguiram amamentar seus filhos em paz.

      Obrigado por seu comentário, por acompanhar o blog e por se interessar pos assuntos que a maioria das pessoas, infelizmente, nem sabe que existem.

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  3. Dr conheci seu blog hoje!!! Estou aqui no meu celullar enquanto meu bebe dorme apos uma mamadeira! Tentei de tudo tb! Apego ao meu filho é o que mais tenho, um bebe planejado e desejado por cinco anos de tentativas! Amei seu blog parabéns
    E realmente na teoria tudo é maravilhoso, sou nutricionista, fiz mestrado em saúde publica e especialização em Nutricao obstetrica, achava que amamentar seria fácil pois sabia tudo na teoria....e agora estou aqui sem amamentar...e não agüento esse tanto de propaganda e moralismo em cima do aleitamento materno. Grata por todo o seu trabalho!
    Leandra

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  4. Dr Jairo ,
    li este artigo sobre apego , como mãe e avó ,estou de acordo com o sr apego, amor , carinho , segurança, tudo caminha junto. Vejo minha neta com 6 anos , sempre dormiu sozinha,é uma criança muito independente, foi amamentada até os 5 meses,tem regras em casa e as cumpre , é cercada de amor e tem certeza absoluta do amor dos pais, sinto que ela é uma criança segura e super afetuosa. Trabalho facil? Não! dificilimo, educar é repetir mil vezes o que se quer ensinar a uma criança, dá muito trabalho, é preciso estar pronto para exerce-lo, dizer sim é muito mais fácil!!!! Amamentar por 1 ,2 3, ou nenhum mes não fará do seu filho um ser mais ou menos pegado a voce, o amor , a confiança, a sua sensibilidade para lidar com seu filho sim criará um vinculo que voce nem imaginava poder existir, por isto não se culpem por não amamentar, ou por amamentar por 6 meses , tá ótimo , enfim free will a todas voces, de uma avó feliz em ser avó que criou as filhas "de orelha" como se dizia, e tem muito orgulho do trabalho feito elas são um espetáculo!!!!!!Abraços ao Sr e a todas mamães!!!!

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  5. Dr. Jairo, concordo totalmente com o que escreveu. Não enxergo a imposição de limites como incompatível com o "dar afeto", com o amor. Não se educa "forçadamente", pois isso não seria educar. Ensino minha filha com muito carinho, mas com todos os limites que considero importantes para o seu desenvolvimento emocional e até mesmo físico. E para que tenha a independência que, no auge dos seus 1 ano e 9 meses, é possível a ela ter. Sei que ela não vai brincar e, depois, guardar sozinha seus brinquedos. Mas acho importante que saiba que é assim que deve ser feito, então guardamos tudo juntas, cantando a musiquinha do "guarda guarda". Aos poucos ela entenderá que deve fazer assim não porque isso lhe foi imposto, mas porque lhe foi ensinado. E assim por diante...

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  6. Gostaria de ler um post sobre assaduras. Minha bebe estava assada, estamos dando banho toda vez que ela faz coco e trocando a fralda a cada 3 horas, deu uma melhorada mas como nao achei a pomada/creme que o Dr Decio me indicou: Hidrabebe gostaria de uma outra opção. O que voce sugere?
    Um abraço,
    Wanessa mae da Mari 9 meses

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    1. Wanessa,
      Postarei sobre assaduras!
      O que recomendo é que use o creme protetor CETRILAN em todas as trocas. Evite, por hora, lenços umedecidos.
      Abraços

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  7. Drº Jairo Len, o seu blog caiu do céu aqui no meu cantinho particular, tenho um bebê de 2 meses e estou entre as mães que não conseguiram amamentar exclusivamente ao seio, vinha me sentindo a pior das criaturas, uma culpa que não cabia em mim. É claro q a leitura do texto não resolveu meu problema, mas devo lhe dizer que encontrei o caminho...

    Gostei da frase: "Vamos deixar as mães que não conseguiram amamentar seus filhos em paz"

    ME DEIXEM EM PAZ!!!!

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