Antibióticos - Postado por Jairo Len

Dentro da medicina terapêutica, sem dúvida nenhuma o maior injustiçado é o antibiótico.
Se houve algum medicamento que aumentou demais a expectativa de vida da população nos últimos 100 anos foi ele.
Menos de um século atrás, antes da descoberta da penicilina, a maior causa de morte em todas as idades era a infecciosa. Pneumonias, meningites, infecções de pele, doenças venéreas, tifo, tuberculose, e aí vai.
É claro que esta mudança de estatística não se deve exclusivamente aos antibióticos. Saneamento básico, higiene pessoal e alimentar são fundamentais também.

Quando prescrevemos antibióticos (fundamental para uma otite, por exemplo), muitas vezes dá a impressão de estar prescrevendo veneno.
"Antibióóóótico??? Mas não estraga os dentes??" 
Pergunta clássica, que seria válida nos anos 1950 e 60, quando as tetraciclinas foram largamente usadas, sem qualquer teste prévio em animais. Escureciam, sim, os dentes. Foram banidas em crianças há 50 anos...
Lembro sempre aos pais que na mesma época obscura da medicina se usou, em gestantes, o anti-ulceroso talidomida. As mães que usaram talidomida tiveram filhos com focomelia, uma anomalia congênita aonde pernas e braços não se desenvolvem.

A medicina evoluiu, e hoje os antibióticos usados no dia-a-dia são extremamente seguros no quesito efeitos colaterais importantes. É claro que, como qualquer medicamento, podem causar reações alérgicas ou gastro-intestinais, facilmente reversíveis.
Alguns antibióticos injetáveis, para doenças extremamente graves, apesar de serem a salvação, merecem monitorização de função renal e hepática. Seu uso em crianças é raríssimo, e sempre em casos hospitalizados.

A despeito de seu uso exagerado (concordo...), os antibióticos são extremamente seguros.
Outra coisa que lembro aos pais é a questão de "intoxicação". Inúmeros remédios, se ingeridos por acidente ou intencionalmente, podem intoxicar: antitérmicos, antitussígenos, anti-inflamatórios, anti-alérgicos...
Antibiótico não... Se uma criança tomar um vidro todo de antibiótico, vai ter desarranjo intestinal, mas não há qualquer problema maior.

Além de tratar as infecções primárias, os antibióticos são fundamentais como coadjuvantes de outros tratamentos, como as quimioterapias das leucemias e as profilaxias de cirurgias cardíacas.
Para os bebês prematuros, de 900 g, os antibióticos são absolutamente decisivos, sem os quais as chances de sobreviver seriam mínimas... Sem efeitos colaterais.

Existe, sim, um exagero nas prescrições dos antibióticos. Não há dúvida.
Seu uso deve ser criterioso, como qualquer outro medicamento. 
Vejo que em adultos, via de regra, são usados "de cara" antibióticos muito potentes, como as quinolonas (ciprofloxacina, levofloxacina). Isso vai levar cada vez mais à seleção natural e bactérias resistentes.
Em pediatria ainda usamos coisas mais simples, como a amoxacilina, azitromicina e celafosporina, como primeira opção.


O diálogo com o médico é importante, saber a real necessidade de tratar ou não a infecção do seu filho com antibiótico e outros medicamentos.

Mas mães e pais devem temer as bactérias, não o tratamento delas.

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