Confesso que não conhecia este termo: Pedocracia. Li hoje em uma reportagem na Folha on line. É o nome das famílias "governadas" por crianças. Lá, quem dita as regras são os filhos - pais se submetem à eles.
É claro que o termo não existe nos dicionários, mas acho que em breve vai existir.
A cada dia, na Clínica, vejo dezenas de casais e famílias tentado educar seus filhos, como vem acontecendo há séculos.
Sempre me perguntam: "- Como devo educar meus filhos?".
Minha resposta começa sempre da mesma forma: não existe um único jeito de se educar crianças. Cada pai e cada mãe (e juntos) devem educar da maneira que acham mais certo.
Com cerca de 1 ano e 4 meses, as crianças estão prontas para reclamar da forma com que são tratadas. Muitos (todos?) se jogam no chão quando contrariados, atiram objetos longe, fazem birra.
Brinco com os pais: essas atitudes significam que as crianças estão falando: "Eduque-me, por favor".
Mas vejo mães e pais que não conseguem simplesmente ignorar este tipo de birra, o que julgo que é ideal para ser feito. Por motivos diversos (não cabe aqui esta discussão), culpam-se, não conseguem ver seus filhos sofrendo assim, cedem às suas vontades nestas horas. E independe da idade: com 1 ano e meio, jogam-se no chão, mais tarde um pouco mordem e batem nos pais (vejo muito isso lá na Clínica), depois batem nos amigos, e assim as coisas vão... Na adolescência, crianças que não tiveram limites são um caso à parte. Todos sabemos as dificuldades que virão.
"Uma geração inteira de pequenos ditadores, na explicação de Marcia
Neder, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Psicanálise e Educação da USP e
autora do livro "Déspotas Mirins - O Poder nas Novas Famílias". "Vivemos uma 'pedocracia'", diz, dando nome ao fenômeno das famílias sob o
governo das crianças. "Há 50 anos, elas não tinham querer. Agora, mandam."
A falta de limites é sinal da derrota dos pais, na visão de Marcia Neder. "A criança foi
a grande vitoriosa do século 20." "Vamos pagar o preço de ver esses tiranos crescidos." (folha on line).
O psicanalista Renato Mezan, da PUC-SP, complementa: "O problema é que a balança foi toda para o outro lado: da rigidez à
frouxidão. Por um
lado, é um avanço social, há mais diálogo na família e mais decisões
consensuais. Mas, por outro, os pais têm medo de exercer a autoridade legítima.
É uma crise de autoridade generalizada. A ideia de que colocar limites pode ser danoso à criança é 'idiota'", afirma
Mezan. Segundo ele, a inexistência de regras gera ansiedade dos dois lados. (folha on line)
Noto que, para algumas famílias, não há outra forma se se criar - só aquela sem quaisquer limites. Mesmo que isso incomode muito quem está em volta, que é obrigado a conviver no mesmo mundo. Mas noto também, 5 ou 10 anos depois, como estas mesmas famílias estão atônitas com os filhos. E - muito interessante - a maioria dos pais destes tiranos, nesta primeira infância dos seus filhos, orgulha-se de como seus próprios filhos "estão" educados. Julgam que os outros - que impõem limites - são uns carrascos.
De acordo com Içami Tiba, "um aspecto crucial na
educação é a autoridade. Muitos pais temem perder o amor dos filhos se forem
firmes nas regras e nas cobranças. Todo mundo sabe que adolescente contrariado é
encrenca na certa. Como uma criança birrenta, ele reclama, briga e faz
escândalo, dentro de uma escala proporcional a seu tamanho. Nesse ponto os pais
não podem ceder. Precisam estar conscientes de que, como todo mundo, os jovens
não dão afeto a pessoas que não respeitam." A força dos pais está em transmitir aos filhos a diferença entre o que é aceitável ou não, adequado ou não, entre o que é essencial e supérfluo, e assim por diante."
Portanto, para um mundo melhor, "abaixo a pedocracia". Não é fácil educar, não há um jeito único ou certo, mas parece que a maioria das pessoas sensatas sabe muito bem o que não deve ser feito. Pelo menos com os filhos dos outros...
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