Perséfones e Obesidade - Postado por Jairo Len

Confesso que já fui noveleiro (quem não foi?) mas hoje em dia, talvez por absoluta falta de tempo, não acompanho mais as novelas... Ainda que, assim como o futebol, sabemos o que está acontecendo sem assistir aos jogos.
Na internet li sobre o casamento de uma personagem obesa, Perséfone, e todos os comentários, de gente do ramo ou não, sobre o preconceito que os obesos (no caso, bem gordos, como a personagem) sofrem no dia a dia. 
Na UOL, por exemplo: "Novela humilha personagem gorda e ensina que felicidade depende do marido". "Embora com pinceladas cômicas, as desventuras de Perséfone têm desagradado uma parcela significativa de telespectadores, inconformados com o tratamento dado a ela e que, agora, é recompensado com a conquista de um homem. Descontentes com o perfil da enfermeira –mostrada como ingênua, boba, desesperada para arranjar um parceiro, blogueiras plus size chegaram a criar uma petição online para o autor Walcyr Carrasco mudar os rumos da personagem, mas não tiveram seus desejos atendidos."
Acho que esta parte da novela esteriotipa o que ocorre, exatamente, na vida real. A cobrança com o corpo da mulher é gigantesca (não ser gorda). Homens obesos da novela estão casados e não se fala nisso. A atriz, Fabiana Carla, acha que o que se passa na novela reflete o preconceito que o gordo leva na vida real. Alguém nega?

Aí vem a discussão que julgo importante. Se olharmos o modelo norte-americano, aonde tudo vai sendo adaptado à crescente obesidade da população, se percebe que a obesidade mórbida vem crescendo de forma incrível por lá. Scooters à vontade, roupas gigantescas, pratos idem. Por aqui ainda temos uma visão mais amedrontada da obesidade - e isso é ótimo - porque na segunda e terceira décadas de vida ninguém se preocupa com a saúde e complicações no futuro - e evitar a obesidade é questão de honra por motivos de auto-estima "física", de beleza mesmo. 
Se tivermos a tranquilidade e leniência norte-americana com a obesidade, estamos perdidos. 

"O físico não deveria ser o principal ponto de atenção. A mulher precisa ser mostrada como ela é, como um todo. Afinal, a pessoa vale pelo seu todo ou vale quanto pesa?", questiona o psiquiatra Arthur Kaufman, fundador e coordenador do Programa de Atendimento ao Obeso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínica da USP". Concordo com o psiquiatra, mas não é essa a nossa realidade.

"O psicólogo Marco Antonio de Tommaso, credenciado pela Associação Brasileira para Estudo da Obesidade, completa: "Faz parte do estigma da obesidade mostrar nas novelas e nos filmes a gorda boazinha de coração puro, que mantém os bons sentimentos mesmo que os outros caçoem dela. A gordinha precisa sobreviver e assume um personagem para atenuar a rejeição e a discriminação".
Essa é a realidade em que vivemos, vale para gordos e gordas, no caso.

Perséfone, a da novela, mostra a vida "quase" como ela é. Apesar das críticas dos politicamente corretos, ela está casada, e provavelmente isso seria bem mais difícil, desta forma, na vida real.

É extremamente importante que a obesidade seja combatida nas primeiras duas décadas de vida, e o pediatra é fundamental, em muitos casos, para alertar os pais. No meu dia-a-dia vejo que muitas famílias ainda se surpreendem quando mostro, graficamente, que a criança engordou demais. Não perceberam, e muitos não "acreditam", principalmente as avós...


Ela conseguiu!

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