Antibióticos...vamos ter saudades deles - Postado por Jairo Len

Já escrevi algumas vezes aqui no blog sobre antibióticos, sobre a necessidade de ser sempre prescrito com motivos reais, e escolhidos com cautela.
Nesta época do ano (outono), o uso de antibióticos aumenta muito, proporcionalmente ao aumento das doenças infecciosas.
E ainda sinto uma incrível resistência de algumas famílias ao uso deles...mesmo quando está clara e evidente a necessidade.
"Não estraga os dentes?" - essa é a pergunta clássica - que faz sentido se fosse feita em 1960, quando se usava a tetraciclina em crianças e grávidas. Essa escurecia os dentes. Não se testava antes, foi realmente uma época obscura.

Saudades - porque teremos saudades dos antibióticos?
Há mais de 10 anos não houve nenhum lançamento de um novo antibiótico em pediatria. Não que tenhamos grande necessidades, ainda nos viramos bem com os que temos atualmente - mas não inventaram nada novo...
Há três anos o FDA, orgão regulatório norte-americano, não recebe nenhum pedido de aprovação de antibióticos por via oral.
Os laboratórios praticamente não se interessam em pesquisá-los. Ganham rios de dinheiro com remédios oncológicos e imunobiológicos. Se lançam um antibiótico, em cinco anos a patente é quebrada e inundam-se as farmácias com similares e genéricos (a maioria deles de baixa qualidade).

Bactérias cada vez mais resistentes tem chegado aos nossos hospitais - e arrisco dizer que no nosso dia-a-dia também. Não as "super-bactérias", mas algumas que demandam uso de dois antibióticos (numa simples otite, por exemplo).

Concordo que muitos médicos abusam de antibióticos na sua prática clínica, usando alguns muito fortes para infecções que podem ser combatidas de forma mais suave. Exemplo? Certamente você já viu o uso de quinolonas (ciprofloxacino, levofloxacino) para tratar sinusites ou infecções urinárias... São medicamentos ótimos, mas não como primeira opção.

E concordo 100% que a maioria dos pacientes não tem qualquer culpa disso!! Compram e tomam conforme a prescrição. Usar "mal-usado" e por pouco tempo é um fator importantíssimo de resistência bacteriana, mas isso não é algum muito comum, ainda mais em tempo de receitas controladas para comprar antibióticos.

Por falar nisso, desde a implementação do controle de compra de antibióticos, incrivelmente a venda deles aumentou. Não consegui entender...

Temos hoje em dia inúmeras ferramentas (ainda caras e restritas, diga-se) para saber de forma não invasiva, sem picar a criança, se a infecção é viral ou bacteriana, quais vírus e quais bactérias, eventualmente. Devemos usá-las, sempre que disponíveis.

Mas quando é necessário e adequadamente prescrito, o antibiótico deve ser usado sem medo - são os remédios que mais contribuíram para a diminuição da mortalidade nos últimos 80 anos.
E falar mal deles é covardia...!



Comentários